Capítulo Único - My Doll
Ali sentado sob um banco de madeira em seu atelier secreto, cercado pela escuridão solitária e vigiado pelos olhos sem vida dos vários bonecos ali contidos, Sasori mantinha toda a sua atenção em sua maior obra-prima.
A penumbra quebrada pelo pequeno círculo luminoso que emanava da vela ao seu lado revelava seu objeto de profunda admiração. Sob o seu colo, ela fitava o nada com os olhos amadeirados agora opacos, mas que outrora ardiam em determinação esmeraldina... A menina-mulher de curtos cabelos róseos que contrastavam com o brilho intenso de seus orbes verdes, dona de uma beleza exótica, alucinante e inimaginável até mesmo para grandes pintores. Mesmo após “perder a vida”, as outras marionetes eram meros rascunhos perante tamanha beleza.
Ela era simplesmente perfeita. As curvas singelas, porém provocantes, que rogavam de maneira recatada para serem desvendadas. O rosto angelical que refletia pura inocência e lhe dava uma feição infantil fascinante. Tão menina e tão mulher. Sasori gostaria de tê-la trazido para ser sua rainha. Faria-lhe todos os mimos, realizaria todos os seus desejos e vontades. A rosada seria sua e somente sua. Ninguém além dele teria a honra de pôr os olhos em tal formosura... Tocar a pele macia e cremosa na cama, fazê-la sua até não lhe restar mais forças, ouvir seu nome em gemidos proferidos pelos lábios rosados enquanto a Haruno se agarrava aos lençóis de seda em pleno êxtase... Droga! Como queria tê-la subjugado sem precisar mata-la!
O ruivo a subestimou e teve o destino dela palpável em suas mãos. Sakura era linda, mas seu egoísmo jamais permitiria que ele escolhesse que a jovem vivesse. E para evadir de um ataque da maldita Chiyo, Sasori a utilizou como escudo e tirou a vida da doce rosada. Acabou com seus sonhos, seus planos e fora jurado de morte pelo amigo hiperativo da pequena flor.
“Pode vir...” – Fora o que ironicamente respondera, com o corpo da Haruno em seu colo e banhado pelo sangue desta, um sorriso sádico ocupando os lábios finos enquanto observava o estado de choque do Uzumaki envolto pelo manto da Kyuubi.
Infelizmente, para Sasori, não houve batalha, o Sensei do garoto não permitira que ele lutasse naquele estado e os dois fugiram como ratos, intimidados pelo seu predador. Nem ousaram lutar ao menos para recuperar o corpo de sua amiga. A abandonaram covardemente nas mãos do inimigo. Lamentável... Tão inferiores ao seu majestoso poder... À sua eterna arte.
– Não se preocupe, minha flor... Você terá sua vingança... – Ele acariciou o rosto frio da garota, imaginando o quão prazeroso seria matar aqueles dois vermes de Konoha com sua boneca. Um brilho doentio passou por seus olhos castanhos. – Somente minha...
Ele agradeceria à Naruto e Kakashi... O corpo de Sakura era seu e mesmo que não servisse para seu prazer pessoal, lhe seria extremamente útil para dar continuidade aos seus planos... Tão jovem e tão forte... Sua flor, sua boneca, sua perfeição...
Ela era simplesmente sua boneca de porcelana...
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Tivera a dolorosa notícia no reencontro do time 7. Ele sentira a ausência feminina na equipe, a falta das madeixas róseas esvoaçando rebeldes ao vento, dos olhos esmeraldinos brilhantes e gentis e dos lábios cheios entreabertos enquanto a doce voz sussurrava enfraquecida seu nome como em uma carícia.
“Sasuke-kun...”
O moreno esperara a figura feminina irromper câmara adentro. Ansiara para pôr os olhos na silhueta esguia, ver o quanto ela mudou, presenciar o que nunca mudaria e ter a certeza de que a rosada lhe esperava. Mas ela nunca veio...
“Onde está a Sakura...?”
“A Sakura-chan está morta...”
A dor irrompera em seu peito e por um momento a expressão indecifrável vacilou. A máscara de frieza caiu, o desespero e a agonia vieram à tona. Uma apunhalada em sua alma, uma facada em seu coração já maculado pela perda de uma pessoa importante. De novo, sua mente gritava. E saber que não mais a veria, que não poderia mais desfrutar de momentos ao lado dela, de saber que após o término de sua vingança não seria Sakura quem o abraçaria e o acolheria somente fez a fúria crescente surgir em seu interior. Porque era ela, sempre foi ela e simplesmente acabou. Era o fim, seu pior pesadelo havia se tornado realidade. Sakura estava morta e não havia nada que ele pudesse fazer. Um turbilhão de culpa, enquanto tentava manter a postura fria.
Impossível. Tudo foi rápido demais.
Em um momento ele era o Sasuke frio e inexpressível e no outro ele era um homem caído e arruinado que tinha entre os dedos o pescoço de Naruto. O que importava tudo agora? O que importava o clã?
“Eu mandei você protegê-la!”
Naruto falhou e por culpa dele, Sasuke estava sozinho no mundo. Um garoto desesperado, sem amor e sem amigos, uma criança apavorada que era envolvida pela escuridão. Raiva, ódio, dor, tristeza... A mescla de sentimentos que o confundia e o consumia. Ele rumaria pelo caminho errado, vagaria pelas penumbras, limparia a honra de seu clã e chegaria ao assassino de sua flor. Ah, e uma vez lá, o Uchiha o faria conhecer o inferno rubro e sangrento de seu sharingan.
“Você ficou fora de si... Sasuke-kun, a garota significava muito para você, huh?”
Os ferimentos físicos não doíam, embora ele tenha saído bastante prejudicado da luta com o Uzumaki. Sasuke saltou da maca, ajeitando a blusa branca em seu corpo e assim ocultando as faixas ao redor de seu abdômen. Não fora o suficiente, ele ainda tivera energia para levar seu corpo ao limite em um árduo treinamento após o encontro. A destruição na floresta a poucos metros do esconderijo era apenas uma reflexão de sua amargura. Todos iriam pagar, todos! Por arrancarem de si o que lhe restava de humanidade, por destruírem aquilo que ele julgava mais precioso, o único sentimento bom que ele carregava em seu coração. Agora o ódio dominava, a descrença de um final feliz e o remorso sanguinário que o consumia como chamas abrasadoras.
“Eu não sei do que você está falando...”
Kabuto e Orochimaru. O Uchiha os deixou para trás com uma mentira, a primeira de muitas. E ambos sabiam, que naquele exato momento morria um garoto traumatizado e nascia um homem dominado pelas trevas.
